Língua de Trapo Língua de Trapo - Ouriço na vila

Eu fui à Vila Madalena apanhar minha pequena
Prum programa legal, pegar uma tela e o escambau
E na Fradique Coutinho entrei lá no Sujinho
Pra me ambientar, a inteligenzia toda lá
E quando fui entrando, fui logo morando
Um papo diferente, na mesa de um livre docente
Ele defendia uma tese esdrúxula, paradoxal:
- Levando-se em conta o alcoolismo crônico de Scoth Fitzgerald
E a homossexualidade imanente de Proust
Temos, pois, que E é igual a MC ao quadrado, morô?
Me encostei no balcão e feito um espião observei o alarde
Só dava Freud e Thomas Hardy
Eu fui me irritando, e o papo piorando
Pura citação, de Baudelaire até Platão
E tome Kurosawa, e tome James Joyce
E tome Hemingway, é tanto nome que nem sei
Saí meio grogue, chamando Van Gogh de Galileu Galilei
Jorge Goulart de Nora Nei
Eu sou um erudito de alto gabarito intelectual
Leio Camões no original
Sou pós graduado, formei-me advogado pelo telefone
Via Embratel pela Sourbone
Assino o Estadão, sou da oposição
Abaixo o sistema, já critiquei até cinema
Eu vou em gafieira, me amarro no Gabeira
E tô desempregado
Um dia eu chego a Jorge Amado
Voltei àquela bodega com uma raiva cega
E cuspindo prego
Me alteraram o super-ego
E fui logo citando, no estilo Marlon Brando
Uma frase em latim:
- Homus obispus James Dean
Os caras se borraram e já me contrataram para lecionar
Como professor titular
Na universidade da nossa cidade
O idioma latino
- Data vênia, Hare Krsna, como anda bem o nosso ensino!